A canção da eternidade

De tempos em tempos
Viajo em busca de uma oportunidade
Pra ouvir os segredos
Que as águias contam
Enquanto cantam
Lá no alto da montanha

E costumo levar uma lona comigo
Pra imitar um ninho
Parecido com o delas
Pra que eu possa abrigar
O meu corpo
E libertar a minha mente
Durante uma boa temporada
Pra refazer o meu espírito

É onde
E quando
Faço uma fogueira
Com lenha
E folhas de laranjeiras
Pra queimar os maus espíritos
E a rodeio de mantas
Feitas no tear
E que me aquecem durante
As longas horas
Que me cobrem
Ora de sol
Ora de lua
Ora de estrelas
E horas e horas
E dias e dias
E meses e meses
E que revestem o meu arco
Com a luz de que preciso
Pra me refazer
Tal qual uma águia
Que de tempos em tempos
Enterra-se pra renascer
E redobrar a sua vida
E a sua força

É um tempo de isolamento
De aprendizado
De aceitação
E de boa-vontade
Em que a minha alma vibra
Pois sinto que o meu sangue circula
E impulsiona meu coração a bater feito um tambor
Que ecoa dentro de meu peito
E faz música em meu prado mais distante e isolado
E dotado de um vale verde
Que poucas vezes
Se viu

E tal esforço
É penoso
E pacífico
E solitário
Enquanto arranco as minhas penas
As minhas garras
E por fim
Quebro meu próprio bico
Com pancadas lancinantes
Nas pedras que rodeiam o fogo
Que aquece o meu ninho
E sara minha alma

É um momento de sabedoria
O qual eu sempre seguirei
Porque nossas leis
Não são cumpridas
Por que são escritas
Mas sim
Porque são sagradas
Aos homens que rodearam minha mãe
No momento de minha luz
E que por todo sempre
Repetem o mesmo gesto a todos
Que de bom grado
Guardam crianças
E velhos com a mesma devoção
E talvez
Por isso
Tenhamos dois aniversários
O primeiro
Como guerreiro
E o segundo

Como águia

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